terça-feira, março 22, 2016

Resposta a Gregório de Matos por sua Definição de Priapo com esta Definição de Vagina

É coisa bonita vê-la:
Parece uma fechadura;
Descomposta ou com postura,
Ela chama, pede, apela...
É coisa boa sorvê-la...
Ou pôr-lhe chave que adentre...
Localiza-se esta entre
Duas pernas bem roliças,
Experientes ou castiças;
Sublime porta do ventre!
 * * *
Dizem que tem muito sal;
Que sua como uma atleta
Com pesos sobre a paleta;
E, mal entendido, mal...
Diz que cheira a bacalhau;
Que molha tudo o que toca
(É semelhante a uma boca...);
Mas diz o corno sodoma
Que traz de peixe o aroma,
Qual um tivesse na toca.
* * * 
É isso papo furado:
Não creio a comparação.
Ali, da concepção
Começa e termina o fado.
É um recanto sagrado;
E mais que um bom santo objeto,
Que expele mijo e dejeto
(Que alguns até lhe acham feio!),
É graças a este meio
Que estamos nesse conspecto.
 * * *
Há quem diga que não goste
Ou que seja ela mui suja...
Há quem chame a ditacuja
De nomes vários, e arroste
A tudo que nela encoste...
Por ser a cultura banal
Deste beato quintal
De religiões e de mitos,
De entendimentos restritos,
E de ensaiado moral.
 * * *
Mas prefiro conceber
Mais alto e amplo conceito;
Pelo ser, e pelo efeito
Que este causa-nos no ser;
Se minha opinião valer
Saberemos concordar
Que só com imaginar
Queremos deste veneno
Que pode matar a pleno...
E, mais que tudo, curar!
 * * *
É caça muito caçada;
E caçadora discreta!
Quando caça é mui seleta;
Pega, come e sai tapada.
Quer seja guerreira ou fada
Pega o peixe pelo rabo;
Leva as culpas pelo diabo.
E pelas dores do mundo.
Mas basta vê-la um segundo
E os anjos perdem seu gabo.
 * * *
Esta senhora mui nobre
Não faz distinção mesquinha:
Se encontra seu par, faz rinha;
Quer seja rico, quer pobre;
Quer queira ouro, quer cobre...
Derruba reis, faz a guerra;
Mas dentro em si ela encerra
O santo poder ferino;
Pois comanda o feminino
A vida humana na terra.
 * * *
 Variação na forma é pouca:
De fenda, quando fechada;
De flor, se for excitada,
Parecida c’uma boca;
Voz não tem, sequer é rouca...
Mas lábios que dão-nos prosa
Tem, e mais, de caprichosa
Guarda outros lábios dentro,
Que protegem no seu centro
Um vivo botão de rosa.
 * * *
Só na forma se assemelha
Às outras; na cor varia...
Se a dona é branca, teria
Por dentro a pele vermelha;
Se for índia, é cor de telha;
Se for mulata, é corada
A da negra, é mui rosada;
A amarela é um mistério...
Cada uma, a seu critério,
Vem coberta ou devastada.
 * * *
 A cobertura qual luva
Lhe cai, ou não, vai da crença:
Pois seja a floresta densa
Ou esparsa como a chuva;
Seja qual folha de uva
O desenho em sua ama;
Seja qual pequena chama;
Ou quadradinho perfeito;
Seja lá um filete estreito;
Ou mesmo a calva, se inflama.
 * * *
De perfeita, sangra às vezes;
Se não sangra, é um sinal
De que ela comeu a cal
Com que caia nove meses;
Para então nascer Menezes;
Ou expelir Alencastros;
E tantos bons (ou impiastros),
Faz ela nascer no mundo.
Faz do calmo furibundo;
Faz lutar Coutinho e Castro.
 * * *
Beleza que dela emana
Atrai, desperta em estalo;
Faz latejar todo o falo
Pela entrada, e já se inflama;
Seja na rua, ou na cama...
Quem de nós não quer nest’hora
Com a língua que deflora
Explorá-la pelo centro;
Ou pô-la na boca adentro
E abarcá-la por fora?
 * * *
Dizei, meu mestre, que bicho
Mais que a mulher se deseja?
Pois isso que me lateja
Não foi achado no lixo!
Quero só daquele esguicho.
Perdoai, mestre, o arrosto;
Mas dareis razão (aposto!):
Não louvarei este fiapo;
Qual quem cantou o priapo...
Eu canto aquilo que gosto!
 * * *

Betinho PQD
(22/12/2013)